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Dom Casmurro: Um Espelho das Ambiguidades Morais Humanas

  • 1 de jul. de 2024
  • 3 min de leitura

"Dom Casmurro", a magnum opus de Machado de Assis, transcende a mera narrativa literária ao realizar uma meticulosa dissecação das complexidades morais que permeiam a existência humana. Este romance não apenas entrelaça eventos e reflexões de forma sutil, mas também convida à profunda contemplação sobre a condição humana e suas interseções com a moralidade. Ao acompanhar as trajetórias de Bentinho e Capitu, somos instados a refletir sobre os fundamentos da moralidade, habilmente insinuados por Machado de Assis em cada página de sua obra que, diga-se de passagem, transpõe a genialidade.


Essencialmente, o livro destaca a ambiguidade moral como um aspecto inerente à humanidade. A moralidade de Bento Santiago, nosso narrador, é permeada por incertezas e dilemas internos, revelando uma alma que oscila constantemente entre devoção e ciúme, amor e suspeita. Capitu, com seus enigmáticos "olhos de ressaca", funciona como um espelho das próprias incertezas de Bentinho, simbolizando a complexidade e a dualidade da natureza humana. Esta ambiguidade moral sugere que virtudes e vícios não são opostos diametralmente contrários, mas sim coexistentes de maneira intricada dentro de cada indivíduo, desafiando as definições simplistas de bem e mal.


Outrossim, "Dom Casmurro" oferece uma crítica perspicaz à hipocrisia presente nas esferas sociais e religiosas. Bentinho cresce sob a influência das expectativas maternas e das convenções religiosas, personificadas por Dona Glória, que encarna a moralidade rígida e tradicional de sua época. Por outro lado, José Dias, o agregado, exemplifica uma moralidade utilitária moldada por adulação e oportunismo. Machado de Assis, com sua prosa afiada, revela como essas formas de moralidade frequentemente servem a interesses egoístas e perpetuam a injustiça, disfarçadas sob a máscara da virtude. A jornada de Bentinho, do seminário ao casamento, ilustra a alienação resultante da conformidade cega às normas sociais, levando a uma vida marcada pela infelicidade e autoengano.


Em desfecho, "Dom Casmurro" é uma obra que nos exorta a considerar a complexidade da natureza humana e a fluidez das fronteiras morais. Machado de Assis, por meio de uma narrativa repleta de sutilezas e introspecções, alerta contra o perigo dos julgamentos morais absolutos. A verdadeira sabedoria moral, sugere ele, reside na compreensão e aceitação da ambiguidade inerente à condição humana. Esta aceitação não apenas nos permite julgar com maior equidade, mas também viver com autenticidade e compaixão, navegando pelas complexidades da vida com uma bússola ética refinada, sensível às nuances da experiência humana.


Sendo, então, "Dom Casmurro", um tratado sobre a moralidade humana, um convite à reflexão sobre os dilemas éticos que moldam nossas vidas. A narrativa de Machado de Assis, pela sua profundidade e erudição, transcende o tempo, oferecendo preciosas lições sobre a natureza do bem e do mal, e sobre a necessidade de uma compreensão mais matizada da moralidade. Em não obstante análise, a obra nos lembra que a verdadeira grandeza moral não se encontra na adesão inflexível a dogmas, mas na capacidade de navegar com sabedoria e empatia pelas complexidades da existência.


Ora, a moralidade não é estática nem universal, mas um campo de batalha onde as motivações individuais e sociais se entrelaçam de maneira complexa. Bentinho e Capitu, com suas escolhas e dilemas, ilustram como as decisões morais podem ser influenciadas por desejos ocultos, ambições disfarçadas e conflitos internos profundos, tudo sob a máscara da conformidade social ou religiosa.


Sintetizando, ler "Dom Casmurro" não é apenas absorver uma trama intrigante, mas também mergulhar em uma exploração profunda das motivações humanas e das justaposições morais que definem nossa existência. É um convite para examinarmos nossas próprias convicções morais e questionarmos o que verdadeiramente determina o certo e o errado em nossas vidas, num mundo onde as fronteiras entre ética e conveniência frequentemente se misturam.


Por Helida Faria Lima

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