top of page

Cantos de Esperança, Uma Entrevista com Armando Filho

  • 10 de jul. de 2024
  • 6 min de leitura

Armando José da Silva Filho, natural de Cabo de Santo Agostinho (parte da concentração urbana de Recife), Pernambuco, nasceu em 18 de agosto de 1954 e é renomado por sua vasta contribuição ao cenário evangélico brasileiro através de suas composições cristãs, que são amplamente reconhecidas pelo impacto significativo que exercem.



Em que momento você descobre sua paixão pela música?

Por incrível que pareça, eu descobri isso quando eu tinha cinco anos de idade. Quando minha mãe me levou pra... ela sempre levava pra uns cultos, eu sempre ia com ela, com os meus pais, mas a minha mãe, ela recebeu de Deus essa vocação, esse dom pra cantar e dirigir corais e grupos infantis. Então eu tinha cinco anos de idade, quando ela pediu pra eu cantar uma música... Que Doce Voz Tem Meu Senhor do Feliciano Amaral. Então, a primeira vez que eu cantei na igreja, quando eu tinha cinco anos de idade, e cantei essa música, a partir de então, eu descobri que eu tinha esse chamado de Deus, essa vocação para continuar a louvar ao Senhor. Depois foram surgindo oportunidades de participar de grupos infantis e quando eu me tornei adolescente, grupos de adolescentes, quando eu fiquei mais jovem, mais velho, grupo dos jovens, depois de casar, grupo dos homens, agora dos senhores e dos anciãos (risos).


Suas obras são caracterizadas por uma fusão de ritmos brasileiros, como o forró, originário do Nordeste ou o baião, gênero também nordestino com batidas sincopadas. O mesmo ocorre com o frevo e o ritmo de balada, que podem ser ouvidos em algumas de suas músicas. E claro, o xote, com típicos compassos dois quartos também é notado em sua extensa discografia. Se tratando de autenticidade regional, como a paisagem musical do Brasil nos anos 60 e 70 moldou seu estilo e abordagem à música gospel?

De forma muito natural eu comecei a compor canções e músicas mais lentas, ritmo de balada, aquela coisa assim do Nordeste... Mas minha influência veio mesmo do Rio de Janeiro, vem do Ozeias de Paula, o LP "Eram Cem Ovelhas" me marcou muito. Eu comecei a comprar muito LP do Ozeias e a imitar o Ozeias, então se tem alguém que me influenciou muito, foi o Ozeias. Então, se tem alguém que teve uma influência muito forte na minha vida como cantor, foi o Ozeias de Paula. Como cantor Ozeias de Paula, e como compositor, também do Rio de Janeiro, o Edison Coelho, que pra mim é o maior compositor do Brasil, do mundo. Eu amava quando Luiz de Carvalho cantava "O Rei Está Voltando". E na casa do meu pai só tocava Feliciano Amaral, meu pai só ouvia Feliciano Amaral. Inclusive, tenho uma lembrança muito especial. Sempre que meu pai saía de casa, quando chegávamos na igreja, naquela época havia uma corneta, que era um alto-falante que não usamos mais hoje nas igrejas. Lembro-me que o pessoal da igreja colocava um LP do Feliciano Amaral para tocar. Quando me lembro disso, fico emocionado, pois é algo que marcou muito meu coração. Era incrível chegar na congregação e ouvir o Feliciano Amaral cantar "Noite Azul, Céu Sereno", e outras canções como "Num Barco Pequeno, Caminhando no Ar". Essas músicas trazem uma saudade tremenda daquela época, lembrando-me de Feliciano Amaral, Luiz de Carvalho e outros cantores que já não estão mais conosco. Adilson Rossi também me inspirou. Eu aprendi muito com todos estes cantores, na verdade. O brasileiro tem uma capacidade musical e sonora maravilhosa. Eu amo meu país, a música do meu país. A gente tem que valorizar isso, a música do nosso país. Traduzem muitas musicas norte-americanas e canta-se aqui, e é bom, mas a gente tem que compor mais, cantar mais. O Brasil é muito rico culturalmente, a gente deve dar vazão nisso, na cultura do nosso país. O Brasil é bom.


Em seu álbum "O Final Feliz", lançado em 1990 a canção “O Mover do Espírito” granjeou notoriedade e apreço consideráveis no cenário religioso brasileiro, transmitindo uma mensagem de valorização pessoal e fé. O que lhe inspirou a escrevê-la?

A gente falava de muitos retiros espirituais e a gente ouvia os testemunhos das pessoas aflitas, angustiadas e entre muitas coisas que as pessoas falavam no público, que muitas vezes se sentiam com nada. E às vezes, por conta de uma palavra, e até dentro da sua própria casa, essas pessoas tinham ouvido, coisa do tipo "você não vai dar pra nada", "você não presta pra nada", sabe, aquela coisa, né, "você não tem valor nenhum" , "eu queria que você fosse igual a cantora tal, ao pregador tal, não sei o quê". Então, a gente ficou ouvindo esses testemunhos, mas o que me levou de forma mais assim. Mais... o que foi para mim o mais profundo... e que me motivou mais forte... a compor essa canção... foi quando eu falei com alguém que iria se matar... porque se sentia nada, tinha ouvido em casa que não valia nada... e todo dia essa pessoa só pensava em cometer o suicídio... e ele não foi só uma pessoa que eu ouvi... que eu conheci... que falou sobre o desejo de suicídio, foram várias. E tem uma outra questão também que pode ser inserida nesse testemunho... é que... para muitos... há um tempo atrás... essa questão do Espírito Santo... era um assunto assim que causava mais confusão do que união. Você estava numa igreja... ou numa reunião... falando sobre casos de suicídio. Quando se falava sobre... revestimento do Espírito... uma coisa que deveria mover a unidade, promovia a divisão. Porque as pessoas achavam que Espírito Santo é algo que tem a ver com o fanatismo, então nessa música a gente diz em outras palavras (e eu acho excelente esse dom de compor porque em três minutos a gente fala tudo a pessoa entende tudo, né) que no momento que você se converte ao Senhor Jesus você já é habitado pelo Espírito Santo. Não precisa estar pedindo um algo especial de Deus para ter a compreensão de que o Espírito Santo está em você. Se você aceitou Jesus... na hora que você aceita Jesus, então entra em você o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não precisa de uma experiência espetacular ou manifestações emocionalistas para dar a entender que você é cheio do Espírito Santo. Não, é uma coisa calma, você se converte, você já é habitado pelo Espírito Santo de Deus. É isso que eu quis dizer na música, você tem valor porque o Espírito Santo, eu quis dizer que está em você, se move em você e intercede por você com gemidos indescritíveis. Você não está entendendo o que o Espírito Santo está falando, só o Espírito entende o que está falando a nosso respeito, ele faz a oração que a gente não sabe fazer. É isso que eu quero dizer através da música e eu louvo a Deus porque eu diria que milhares e milhares de pessoas. E estão testemunhando no YouTube, nos lares, nas igrejas, elas falam que estavam à beira do suicídio e quando ouviram essa música, elas mudaram de ideia e hoje são uma bênção na igreja.


Suas composições são e hão de ser cantadas em congregações por todo o país, sendo parte integral da adoração em muitas igrejas evangélicas brasileiras. A que se atribuí tamanho legado?

Ah... a soma de tudo está na misericórdia de Deus... que se estende de geração a geração... e ela... está sobre mim... Deus tem misericórdia de mim... é importante lembrar que... por causa das misericórdias do Senhor... nós não somos consumidos. A primeira coisa importante é... Deus me ama... tem compaixão de mim... tem misericórdia de mim... e por essa misericórdia... Ele... me fez esse chamado. Então... cada pessoa tem um chamado específico... da parte de Deus. Eu atribuo... eu vou usar a palavra que todo mundo vai entender... esse sucesso no bom sentido... Há um chamado que Deus fez para mim e eu diria, desde o ventre da minha mãe, que já fui separado para isso, para ser o que eu sou, pregador através da música, entendeu? Isso é algo irrefutável. Deus me escolheu para esse ministério. Mas se Ele tivesse apenas me chamado e eu não tivesse me dado conta disso e não tivesse aprimorado meus conhecimentos musicais, minha voz, não é? Eu cantava, há muito tempo atrás, com a voz mais rouca, até de forma meio engraçada na igreja onde conto, não é? Eu cantava muito pelo nariz, agora uso mais o diafragma. Tudo isso é interessante, mas o ponto principal está nesse chamado. Deus, por bondade e misericórdia, me deu o dom para transmitir Sua Palavra em forma de música. Essa é a resposta, não é? Ele me escolheu e me capacitou ao longo do caminho.


ree

Armando Filho em 1986, na capa de seu LP "Casa de Deus"


O álbum de Armando Filho intitulado "Nenhuma Condenação Há", fora lançado em 1981. Este álbum marcou o início de sua carreira fonográfica e rapidamente se tornou um clássico da música gospel brasileira. Com canções profundamente espirituais e letras baseadas nas Escrituras, "Nenhuma Condenação Há" estabeleceu Armando Filho como um dos principais nomes do gênero, influenciando gerações de adoradores e músicos. É certo que a faixa-título, "Nenhuma Condenação Há", é especialmente notável e o sucesso desse álbum pavimentou o caminho para uma longa e frutífera carreira na música gospel, solidificando o estilo e a mensagem que Armando Filho continuaria a compartilhar em seus trabalhos subsequentes.


Entrevistado: Armando Filho. | Entrevistadora: Helida Faria Lima. | Data: 09/07/2024.

 
 
 

Comentários


bottom of page